Com Os Pés Na Terra!
Pela Ótica de Um Caboclo Urbano.
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A princípio, aparenta ser mais um emaranhado de ‘asneiras’ escritas por quem não tem o que fazer e que, de alguma forma, pretende ver o tempo passar, sem que se deixe nada escapar aos olhos e sentimentos, sempre atentos! É...
...Pode parecer, mesmo, mas nem vem ao caso. O que mais voga, aqui, no entanto, é a real intenção de descrever algumas passagens boas de minha vida a alguém que está muito longe e encontra-se quase na linha do “desespero” pela volta ao seu País de origem, planejada, há tão longo prazo.
Sabe(...?!...), colocar, literalmente no papel, as coisas que me ocorrem tem sido, desde sempre, um hábito, até, muito bom; às vezes, beira o vício...um ‘ópio’, uma compulsão que não vê freios! Algo patológico...e sem nenhuma sombra de exageros! Bate aquela inquietação típica...aquela extrema vontade de dividir com alguém que valha à pena o resultado da percepção de tudo que me está ao redor. É como se houvesse ( e há, de certo) a necessidade da “figura feminina” a me puxar pelas mãos, num incentivo sadio, obviamente, a inspirar-me, na cadência do dia-a-dia.
Peculiar a um sonhador desvairado, como eu, que faz questão de esconder-se entre quatro paredes, mas, ao mesmo tempo, com um enorme entusiasmo em se mostrar pela linguagem escrita. Faz disso um exercício característico da masturbação mental incessante. Um verdadeiro ‘vuco-vuco’ do intelecto! (...Rsrsr!...)
A essas alturas, a pergunta mais comum é:
- Mas, o que tem a ver o título “Com Os Pés Na Terra” com o que foi lido, até aqui!?
- O que tem esse nobre ‘cabeça-de-bagre’a dizer?
Antes de mais nada, eu gosto de dar uma breve justificativa a quem endereço estas linhas. Uma prévia, apenas!
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Vamos logo, então, ao que, de fato, nos direciona para o ‘tema central’.
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“...Hoje, sexta-feira, 22 de Maio de 2009, acordei bem cedo. Habitualmente, levantei-me, fui ao banheiro, lavei o rosto (e que água gelada! Parecia petrificar-me a pele), olhei-me no espelho e me deparei com a aquela cara de aspecto “amassado”, ainda tomado pelo sono que ia diminuindo, ao longo dos poucos minutos seguidos. Não houve susto porque, já é uma rotina comum a mim mesmo, afinal, são muitos anos de “espelho-espelho meu” e mesmo que, o ‘pobre vidro reflexivo’ nunca viesse se rachar ao meio, a franca sensação foi de que, deveria ter rachado, na certa! Se, até aqui, não o ocorreu, sorte minha e dele. Principalmente dele que continuará impávido a cumprir com a função que lhe foi destinada. (...Rsrrs!...) –
Seguindo adiante, fui à cozinha, coloquei a água pra ferver, preparei o restante; passei um café. Café de ‘macho’, forte mesmo, pra ninguém botar defeito. Café passado em coador de pano, coisa de “roça”! Autêntico! Provei, senti que estava bom! - (Fui bater a porta do outro quarto) - Chamei minha mãe que, lentamente, ia se despertando, não demorando muito a se levantar. Como toda mãe que se preze, se antecipava a dar-me recomendações, entre o que fazer e o que não fazer. Lá, de seu quarto, com à porta ainda fechada, ouvia sua voz, em tom acústico abafado, imperativamente:
‘-...Hey, o café! Não o faça muito forte...Faça pouco...duas colhes de sopa é o bastante! Por favor, não ponha açúcar! Pegue a jarra de leite na geladeira...Ponha-o para ferver em uma vasilha média! Lave bem a garrafa térmica com água bem quente! OLHE O GÁS, menino! Tá pela hora da morte e logo vai subir de preço! Um absurdo!...’
- (Pausa para o meu riso inevitável. Discreto, claro!) –
E as horas correndo...
...Abri as janelas da casa, arrumei minha cama!
Às portas, já escancaradas, fui saindo para ver e confirmar o “brilho do sol” que se projetava sobre as montanhas, no mais bucólico visual dos campos, digno desses rótulos de margarina com direito a vaquinha pastando, riacho ao fundo, galo cantando e verde, muito verde!
Bem...
...Na preocupação em dar mais verossimilhança à esta minha narrativa, passando a descrevê-la no tempo presente; digo que, aqui, nessas terras caboclas e ‘mineiras’, as horas, deliciosamente, custam a passar. É como ter uma notável aquarela viva, diante dos olhos, onde o Grande Autor responsável pela elaboração e distribuição sutil das cores é, na verdade, Alguém que não Se deixa ver. Claro, não se pode vê-lo, nem é preciso, em absoluto! Se faz notável, apenas! - Um ‘SER’ dotado de Infinita Inteligência, muito além da nossa capacidade de compreensão que, aliás, segue sempre, limitada.
O vento sopra suave sobre a vegetação, as flores se mostram belas, como uma ‘dama’ em noites de gala. O azul do céu - Aaahhh, que esplendor! - não tem nada que se compare. Não tem, mesmo!Ao longe, ouço vozes alegres, num diálogo propositalmente disperso e descontraído que se funde ao canto harmonioso dos pássaros, ao “mugir” do gado solto pelo pasto a fora!
É como uma “oração”; um salmo a se recitar!
Vez por outra, essa Paz é interrompida pelo ruído perturbador da ‘moto-serra’ impiedosa, cortante...
...Como se, a cada tronco “rasgado” de uma árvore indefesa, fosse uma pequena parte de meu corpo a se sentir mutilada. Um horror! Mas, é a vida...e “vida rural”, também com seus percalços. Deixe estar...
Não obstante, continuo observador e pensativo...absorto, nesse embalo, já com os pés na terra, cachimbo aceso no canto da boca, fumaça vai...e mais fumaça que vai. A partir daí, bem no alto de meus devaneios, acredito que a figura do saci me acompanha...Ou eu mesmo me proclamo, acidental e quase inconscientemente, como a própria encarnação do saci-de-duas-pernas...Sei, lá!...Pura viagem cósmica pelas vias da batatinha frita!
Ah, deixa quieto! Falo disso, numa outra ocasião...
...No que é mais importante, é incrível a sensação do tempo a se congelar! Acho que os ponteiros emperraram...O som do “tic-tac” ao relógio parece fazer sua pausa!
Não é loucura, garanto!
É só o vislumbrar de um momento raro, quando o espírito se entrega à conexão com as forças da Natureza. Nos faz entorpecidos por essa magia que se chama Universo, tão próximo dos “ávidos” pela Vida e, tão genuinamente distante daqueles que a vêem, mas não a enxergam!...”
Esse texto foi pensado de forma a se fazer ver o contraste entre a insanidade de quem vive em um ambiente conturbado de uma cidade grande e a vida simples do campo, com suas nuances, com sua função natural de nos forçar a ver o que nos custa a enxergar...Enxergar o óbvio...o fluxo do Universo, ao redor, o qual nos passa despercebido à velocidade imperativa que nos submete ao vício pela busca do que é tangível...Do que nos dá ‘status’, posição social ou algo que nos leve a acreditar que seja dignidade. Puro engano! O que nos é tangível é efêmero, passa rápido, desaparece ao piscar dos olhos. Fruto das ilusões...
...Estado imaginário!
Meu ponto-de-vista, em resumo!
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Por: BMFº -
Escrito, originalmente em 22/05/2009 - Sexta-Feira
Transcrito às 05:30h da madrugada de 24/05/2009 - Domingo